Thursday, September 28, 2006

Meu novo barco

Texto baseado no texto de José Saramago " O Conto da Ilha Perdida"

Meu nome é Leila Maria Linck Wasum, tenho 44 anos, 26 de profissão. Moro no Bairro São Miguel, em São Leopoldo. Trabalho no mesmo bairro onde moro, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Mário Quintana, a Família Mário Quintana, há 14 anos. Atualmente dou aula para a 4ª série.
Desde pequena gostava de ensinar ( e e mandar também ), sempre quis ser professora e nunca me imaginei embarcando em outro "barco". Até os famosos testes vocacionais da 8ª série me indicavam este caminho. O dinamismo, a criatividade e a iniciativa que sempre vi nos meus professores me encantava. Aliado a tudo isso, o desejo de mudar o mundo, de marcar meu espaço.
Muitas vezes neste tempo de profissão me senti como um barco sem rumo, no meio de uma tempestade, sendo jogada de um lado para outro pelas mudanças na educação, algumas válidas, outras confusas e vazias. Algumas vezes parecia encontrar-me numa ilha deserta. onde deveria sempre recomeçar novamente. Outras tantas vezes me senti no rumo certo, navegando no mar da integração, da partilha, da satisfação de ver meus alunos crescerem construindo saberes e valores.
Hoje já naveguei muito, vi muita água e muitas ilhas, mas continuo acreditando no sonho da minha ilha desconhecida, que é um país melhor, socialmente justo, onde todas as pessoas tenham os mesmos direitos e deveres, com respeito à cor, religião, raça e opinião. Ouso sonhar com o reconhecimento profissional, com uma qualiade de vida à altura de nosso esforço e de nossa importância social, pois ser professor é cultivar o futuro de uma nação na vida das crianças que acolhemos.
O que mais me satisfaz é encontrar ex-alunos, já grandes, que vem me abraçar ou só cumprimentar e trazem nos olhos aquele brilho que tinham durante as aulas como se dissesssem "obrigado", sem dizê-lo. Esta é a certeza de que nossas sementes germinaram e que ao longo do caminho construímos um jardim, deixando nossa marca neste mundo.
Em compensação, tenho muito medo que o tempo continue passando sem que as pessoas, principalmente as elites dominantes, se dêem conta da importância da nossa profissão. Sem que
percebam que temos a capacidade de transmitir ideologias e valores, mas também medos e preconceitos e, principalmente, de formar opiniões.
Às vezes gostaria que o mundo inteiro me ouvisse para que eu pudesse falar que apesar de tantos obstáculos e dificuldades continuo tendo a esperança de dias melhores e de valorização profissional. Por isto embarquei neste novo barco ( às vezes de águas turbulentas ), porque é preciso sonhar sempre e não desistir jamais.